segunda-feira, 14 de junho de 2010

Poetas no 7ºA

Na sequência do estudo da canção «Voar» de Tim & Rui Veloso, os alunos do 7ºA foram convidados a escrever uma quadra em que tinham obrigatoriamente de usar as palavras voar e sonhar.


Acredito em ti

Tu que me fazes voar

Faz disto minha vida

Algo, para além de sonhar

Ana Isabel

Sem tempo para sonhar

Nada me resta

Sem sentir as palavras voar

A vida já não presta!

Catarina Rocha

Estou a crescer

Deixei de sonhar

Por favor, faz-me poder,

Voltar a sentir, voltar a viver, voltar a voar...

Ana Beatriz

Eu estava a sonhar

Que estava ao luar

Como uma gaivota a voar

E em ti estava a pensar!

Rui Jorge

A amizade é sonhar

Num mundo imaginado

Querer voar e voltar

Num mundo para sempre sonhado

Cláudia Sousa

Gostava de sonhar

E poder ver

Gostava de voar

E não poder

Fabiana

Criança que é criança sabe sonhar

Criança feliz sabe sorrir

A criança sabe voar

Mas não consegue mentir

Andreia Costa

Passo a vida a sonhar,

Tenho muito para aprender,

Mas gostava de voar,

Há tanta coisa para ver!

Jéssica Castro

Gostava de voar

Até à Lua

Gostava de sonhar

Atrás da rua

Telmo

Gostava de saber voar

E novas coisas ver

Não deixar de sonhar

Tenho muito que aprender

Ana Castro

Um dia tive vontade de voar

Mas o mundo não deixou

Tive que sonhar

Mas o sonho que tive acabou

Jéssica Neves

Se conseguisse voar

Tudo isto não passava de um sonho

Contento-me ao sonhar

Pois na realidade tudo é medonho

Catarina Pires

Dá-me asas para voar

Pois, para crescer, dominar

Não basta sonhar

Para os sonhos alcançar

Ana Isabel

Nunca deixem de sonhar, de acreditar nos vossos sonhos... porque «É acreditando nas rosas que as fazemos desabrochar» by Anatole France

sábado, 12 de junho de 2010

O Principezinho Tirano

Num reino longínquo, uma rainha desesperava-se por não ter filhos.
– Temos de ter um! Temos de ter um! – gemia o rei. – Para quem ficará este soberbo reino que me deixou o meu pai, que o recebeu do seu pai, e assim sucessivamente, até à criação do primeiro pai sobre a Terra? A quem entregarei a minha coroa, quando os meus ossos se tornarem velhos e quebradiços, quando estiver cheio de cabelos brancos e tolhido de reumatismo?
– Que quadro tão terrível da velhice me está a pintar, meu amigo! – exclamou a rainha,que também não tinha vontade nenhuma de envelhecer sem filhos.
– Mas não deixa de ter razão: precisamos de ter uma criança.
A rainha consultou todos os manuais e os médicos mais poderosos e mais sábios. Por fim, graças a um deles, um bebé começou a mexer-se no seu ventre e depois a crescer, tranquilamente, em lindos lençóis.
– Cuidado! – preveniu-os o médico. – Este principezinho será o vosso tesouro, mas não lhe dêem mimo demais. Não tenham pressa em fazer dele um pequeno rei.
No entanto, mal o médico virou costas, a rainha pegou logo no pequeno príncipe e começou a enchê-lo de mimos.
– Tu és o meu reizinho, o meu único rei, e os teus desejos são ordens.
Esta frase não caiu em saco roto. Meteram numa redoma aquela criança infinitamente preciosa e, todas as manhãs, uma criada diplomada levava-lhe biberões de leite de burra e mel de abelhas raras. Dormia num colchão de pétalas de rosa colhidas na Abissínia às cinco horas da manhã, e em lençóis bordados a ouro. Para o servirem, uma dúzia de criadas corriam de um lado para o outro e dormiam a seus pés. Estava protegido de tudo: da mais leve brisa, do menor sopro, da mais pequena nuvem… Para o aquecerem, tinham construído um sol artificial, que não queimava a pele, mas que fornecia vitamina D. Foi assim que ele cresceu, tranquilamente, em silêncio, e cheio de tirania, porque os seus desejos eram ordens e esta frase não tinha caído em saco roto.
No dia em que completou sete anos, pareceu conveniente aos pais tirar aquela criança adorada da sua redoma de vidro.
– Meu pequerruchinho, agora já és grande!
– Não sou pequerruchinho nenhum. – disse o príncipe com desdém. – E se quer beijar-me, autorizo-a a que me beije os pés. É quanto basta.
Depois, dirigiu-se ao pai nestes termos:
– Eh, ó rei velhote, passa para cá a tua coroa!
O velho rei entregou-lhe a coroa sem dizer uma palavra, porque nunca havia dito “não” ao principezinho, nem quando ele tinha um dia, nem quando ele tinha três meses. Como proibi-lo então de alguma coisa aos sete anos de idade? E foi assim que o principezinho se transformou em rei. Um rei tirano de sete anos e alguns dias. Mandou cortar todas as árvores, porque lhe tinha caído uma ameixa na cabeça; mandou estrangular os tentilhões um a um, porque cantavam de manhã muito cedo; mandou prender a rainha sua mãe no 749º andar da mais alta das suas torres, porque ela se tinha atrevido a mandá-lo fazer os seus deveres reais. É o que por vezes acontece quando se é criado numa redoma. O pior é que, apesar dos seus caprichos, ele tinha sempre um rosto infeliz e gritava:
– Sinto-me sozinho!! Estou triste!! Ninguém gosta de mim!!
Quando viu aquele cortejo de disparates, uma violenta cólera apoderou-se do velho rei sem manto e sem coroa. Uma cólera que parecia um mar enraivecido.
– Anda cá, meu patife! – ralhou com voz grossa. – Que sorte a minha, ter de aturar um garoto tão mal educado! – o que era um verdadeiro rosário de palavrões para um rei tão bem educado como ele. E continuou:
– Anda cá, que vais levar um bofetão, um tabefe, uma palmada no traseiro. Ainda não apanhaste que chegasse, na tua vida!
A rainha, embora fechada no 749º andar, ouviu os gritos e desmaiou na sua torre. “Seremos condenados à morte”, pensava. “Seremos lançados do alto da torre.” Mas não foi o que aconteceu. Muito sensatamente, o pequeno rei devolveu a coroa ao pai, murmurando:
– Perdão, papá.
O velho rei recuperou a coroa, o trono e o poder. Libertou a mulher e disse-lhe:
– Quando se entrega cedo demais a coroa a um pequeno príncipe, pode-se fazer dele um tirano insuportável! Bem que o médico nos avisou, minha querida!
E a vida continuou como antes. Com um pouco mais de ordem, de civismo. Quem era o mais feliz? O principezinho. Com o pai, aprendeu a jogar ao berlinde e a rir-se com as histórias divertidas que ele contava.
– Ah! – dizia ele. – Como é bom ser criança, não pensar em nada de muito sério e passar o tempo a brincar!
Sophie Carquain
Petites histoires pour devenir grand
Paris, Albin Michel, 2003
(tradução e adaptação)
Esta é mais uma das histórias para "aprender a crescer"! Agradecemos os vossos comentários acerca da mesma. Se gostaram ou não, porquê?

sábado, 5 de junho de 2010

As palavras cor-de-rosa e as palavras cinzentas

Um dia, sem se saber muito bem porquê, tudo aconteceu de repente: as palavras cor-de-rosa desapareceram do planeta. O que são palavras cor-de-rosa? São palavras delicadas, como Obrigado, Faça favor, Se não se importa, És tão importante para mim. Palavras tão doces que são como mel no coração.
Seria obra do Mago Cinzento, que só gostava do salgado, do picante e do amargo? Não… Eram os homens que, vá lá saber-se porquê, preferiam as palavras picantes, amargas e salgadas.
Naquela época, existiam na Terra lojas de palavras cor-de-rosa e lojas de palavras cinzentas. Os vendedores de palavras cor-de-rosa vendiam Amo-te, Penso em ti, Muito Obrigado, Se faz favor… Os vendedores de palavras cinzentas vendiam sobretudo Cabeça de alho chocho, Não me chateies, Cala o bico…
A princípio, comprava-se muito mais palavras cor-de-rosa do que palavras cinzentas. Os vendedores de palavras cor-de-rosa faziam bons negócios, e um perfume doce envolvia a Terra. Os vendedores de palavras cinzentas passavam os dias à espera, porque só tinham clientes uma ou duas vezes por ano, por alturas de grandes zangas.
No entanto, um dia, os homens puseram-se estranhamente a comprar palavras cinzentas. Havia uma crise de emprego, uma greve de corações. Os patrões compravam muitos Vá pregar a outra freguesia, Está bem arranjado, homem, Obrigado pelos seus serviços mas está despedido. Havia guerras entre famílias, divórcios, casais que já não se entendiam. Invejas entre irmãos, zangas… Comprava-se vários Já não gosto de ti, Acabou tudo. Nas lojas de palavras cor-de- rosa, muitos Obrigado, Por favor, Gosto de ti, ficavam por vender.
— Para o diabo com as palavras doces — diziam os homens. — São caras e não trazem nenhum benefício.
Os vendedores de palavras cor-de-rosa, desolados, já não sabiam onde as armazenar.
As lojas cor-de-rosa fechavam umas atrás das outras. Passa-se, Fechado por morte do proprietário, Liquidação total, Quinze palavras cor-de-rosa pelo preço de uma. Mas, mesmo a preços módicos, elas não atraíam ninguém. As lojas de palavras cinzentas, essas sim, prosperavam. Porque, e isso é bem conhecido, as palavras feias são contagiosas. Se no recreio te lembrares de lançar uma, receberás dez em troca! Abriram-se mesmo lojas especializadas em palavras feias, risos grosseiros, insultos horríveis. E os vendedores cinzentos trabalhavam dia e noite para descobrirem jóias raras, as palavras mais horríveis e mais maldosas!
Como receavam ficar sem provisões, como costuma acontecer em tempo de guerra, as pessoas começaram a fazer conservas de palavras cinzentas. Congelaram-nas às dúzias, empilharam-nas nos armários da cozinha, nos guarda-fatos, debaixo das camas.
E, upa, ao menor atrito, ao mais pequeno gracejo, à mais insignificante discussão, ia-se à reserva: Cala o bico, Vai ver se chove, És um atraso de vida, Ó gordefas, e assim por adiante!
Os aniversários tinham lugar no meio dos piores insultos. Cantarolava-se Infeliz aniversário, infeliz aniversário, lançando-se uma bomba de palavras feias no meio da festa. Entre os adultos, para se festejar a passagem do ano, comia-se as passas e bebia-se sumo de peúgas pretas, no meio de gracejos do género:
— Desejo-te um ano péssimo… e, principalmente, muito pouca saúde!
E, quando se abriam as prendas, era um concerto de gemidos:
— Que feio! Como é que tiveste uma ideia tão má? É, de facto, o presente que eu menos queria receber!
Antes das aulas, as crianças corriam para as lojas cinzentas e enchiam os bolsos de palavras feias para a hora do recreio. Antes das férias, os adultos também lá iam, para encherem as malas de palavras cinzentas, de piadas estúpidas, que atiravam pela janela na auto- estrada, entre as sandes e o café, durante os engarrafamentos: Ó aselha, vai mas é plantar batatas!
À face da Terra, a atmosfera era glacial. O Sol, que tem medo das grosserias e dos arraiais de pancada, recusava-se agora a brilhar. Lembrava-se de outros tempos, em que era acolhido de braços abertos:
— Está bom tempo! Que maravilha! Obrigado, amigo Sol… Oh, meu Deus, como gosto do Sol…
Em vez disso, ouvia-se agora:
— Que calor horrível! Bolas! Kêkalôr!
Então as nuvens invadiram o céu, e a terra mergulhou num período glacial. Toda a gente tinha frio. As pessoas recusavam-se a despir-se, já não faziam festas umas às outras, já não nasciam bebés. A Terra estava tão triste, sem flores nem palavras cor-de-rosa!
No entanto, algures no mundo, um rapazinho não queria habituar-se às palavras cinzentas. Talvez por, no seu bolso, ter ficado uma palavra cor-de-rosa meio gelada. “Eu”, dizia Pedro, “não quero um mundo onde mais ninguém canta; onde não se diz bom dia, nem obrigado, onde há sempre tanto frio. Vou ver se encontro o Sol.” O rapazinho caminhou durante muito tempo, escalou colinas geladas, pequenas e grandes montanhas, vulcões extintos. Por fim, ao cabo de meses e meses de árdua caminhada, chegou exausto e transido à casa das nuvens.
— Toc, toc — bateu. — Venho à procura do Sol.
— Oh, oh! — exclamou a nuvem-chefe, que se tinha apoderado do céu cinzento. — Olhem só para isto… Um fedelho ridículo que vem à procura do senhor Sol! O Sol não aparece a ninguém! Desde que as palavras cinzentas tomaram o poder, somos nós, as nuvens pardacentas, que somos os chefes.
Dito isto, virou as costas e fechou-lhe a porta na cara.
O rapazinho sentou-se, confuso. Como responder? Não trazia no bolso uma única palavra cinzenta. Então, começou a chorar. A nuvem olhou para ele surpreendida: já há muito tempo que não via ninguém chorar! Naquele universo glacial, todos os olhos estavam gelados, todos os corações estavam frios.
— Pára com isso imediatamente! — gemeu a nuvem. — Se não, vou fazer cair um aguaceiro. (Porque as nuvens têm habitualmente a lágrima ao canto do olho.)
Finalmente comovida, tomou, lá no íntimo, a decisão de o ajudar.
— Olha — disse-lhe. — Aquela bolinha amarela ali em baixo é o Sol.
Pedro abriu os olhos e viu de facto uma bola de bilhar perdida na imensidão do azul: era o Sol, que estava a desaparecer por causa dos maus-tratos.
Já no limite das forças, o rapazinho caminhou em direcção da pequena bola amarela.
— Bom dia — cumprimentou. — Vim buscar-te. Tudo se tornou cinzento na Terra. Temos frio, sentimo-nos mal. Nunca nos rimos, nunca dizemos palavras delicadas. Tens de voltar.
E o Sol e o rapazinho começaram ambos a suspirar, pensando naquela “época cor-de-rosa”.
— Tens de voltar — insistiu Pedro.
— Vou, a título de experiência — resmungou o Sol. — Mas atira primeiro para a Terra estas palavras cor-de-rosa. Assim, o meu regresso será mais agradável.
O Sol deu ao menino um conjunto de palavras cor-de-rosa: Por favor, É simpático da tua parte, Muito obrigado, Gosto muito de ti, Amor da minha vida, Se não se importa, etc. O rapazinho meteu-as nos bolsos, na boca, no boné, nas meias, em todo o lado. Todas as que ele conseguisse levar.
Regressou à Terra e distribuiu-as ao acaso.
De repente, nos engarrafamentos, as pessoas começaram a desdobrar os papelinhos cor-de-rosa: Faz favor de passar, Que tempo tão bonito, não acha?, Pode ir à minha frente, não tenho pressa nenhuma…
Nos recreios, começaram a ouvir-se novamente risos simpáticos e palavras como És o meu melhor amigo, Claro que podes entrar no jogo…
Em casa, as crianças voltaram a usar palavras cor-de-rosa: Obrigada, mamã, Por favor, Desculpa, não fiz de propósito…
Nos aniversários, cantava-se alegremente e, nas festas da passagem do ano, formulava-se votos de felicidade e de saúde.
O Sol voltou a brilhar e a deitar-se todas as noites na sua nuvem cor-de-rosa. E, juro-te, os vendedores de palavras cor-de-rosa começaram a fazer fortuna! Abriram-se mesmo outras lojas especializadas em sorrisos, em suspiros de satisfação, em delicadeza, em cortesia, em civismo… Foi como mel no coração.
Quanto às palavras cinzentas, decidiram, diante de tanta felicidade, desarvorar com quantas patas cinzentas e peludas tinham. E, quando alguma se lembrava de vir meter o nariz, garanto-vos que não ficava por muito tempo.


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